Como assim?

E, finalmente, um novo ano se inicia: 2017! Uau! 


Como de costume, quase todos os terráqueos humanoides enchemo-nos de novas resoluções, ou retomamos fôlego para realizar as do ano retrasado que não foram honradas. A sensação que tenho é a de que as pessoas veem a mudança do calendário como uma conjunção de astros que formarão uma nova trilha no espaço sideral, zerando o relógio universal para que todos renasçam com a consciência devidamente limpa. Eu também pensava assim; acordava no dia 1º de janeiro com um profundo suspiro, tentando aspirar o "prana novinho em folha", saído do forno da divindade, para pisar com o pé direito na estrada nova.

Mas, infelizmente, não é assim. Simplesmente porque, em geral, amanhecemos os mesmos que éramos no "ano velho". Como em muitas situações na vida humana, pensamos que algo externo e sensacional e extraordinário é que deve vir ao nosso encontro, transformando as borralheiras em princesas, os mendigos em reis.

Temos imensa dificuldade em enxergar e aceitar que cada um é que deve se formatar - a cada respiração. E não a cada ano ou década ou encarnação. É-nos cômodo aguardar: o vizinho é que tem de dar bom dia primeiro; o outro é que tem de sair da faixa se rolagem para que sigamos nosso caminho; o irmão é que tem de pedir desculpas para que, magnanimamente, concedamos nosso "perdão".

No fundo, somos egoístas e orgulhosos demais - os dois piores defeitos da humanidade - para admitirmos que a transformação íntima deve ser operada POR NÓS EM NÓS MESMOS. Isso trará a consciência limpa, a paz, a harmonia, a felicidade e isso e aquilo, que, naturalmente, se espraiarão para tudo e todos que nos cercam. Todos repetem e acham lindo o "faça aos outros o que gostaria que eles fizessem a você", decoram páginas de livros religiosos e tomam ar constrito durante as explanações ouvidas dentro de templos. Porém, ao primeiro esbarrão recebido, na menor contrariedade sofrida, praguejam e alardeiam os defeitos que o "agressor" tem - sem perceber que despejamos o que trazemos dentro de nós mesmos.

Hoje li a notícia abaixo, enviada por um colega de trabalho,

Cão se junta à "namorada" ferida em linha férrea e a protege de trens por dois dias
http://blogs.oglobo.globo.com/pagenotfound/post/cao-se-junta-namorada-ferida-em-linha-ferrea-e-protege-de-trens-por-dois-dias.html

e enxerguei nela o Amor. Um animal não humano, chamado de bicho, irracional, fera, apresentando tanto desprendimento, equilíbrio, honra, força. 

Quantos de nós, seres superiores e únicos dotados de inteligência e bom senso, temos essa atitude diante dos "feridos" que encontramos a cada dia?




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