Até que a morte os separe...
A igreja da pequena cidade estava abarrotada para a missa daquele dia. Mas não seria apenas uma missa – seia a missa. Explica-se: era o dia do casamento de Maria Clara.
Ela circulou o olhar pela nave, parcamente adornada, e imaginou que o Sr. Adolpho, pai de Maria Clara, quisera ocultar a riqueza da família, abrigando a todos que comparecessem à missa daquele dia, sem ofender aos mais humildes nem expor-se aos mais abastados. Era seu pensamento.
Observou a si mesma e maldisse o momento em que se preocupou tanto com a roupa que usaria. O suave vestido que sua melhor amiga emprestara gritava aos outros que não lhe pertencia. Maldisse, também, sua falta de coragem em aplicar próteses de silicone e aumentar suas vantagens carnais... Enfim, nada a fazer, só a lamentar... Meninas, jovens e senhoras exibiam figurinos diversos: desde a calça jeans combinada com regatas até vestidos longos com corpetes bordados.
Pensou, agoniada, que não deveria estar ali. Seu lugar era em sua casa, adornada pelas saudosas fotografias de seu amado. Era ali que se sentia bem, era ali que ainda o encontrava.
Um balofo vestido cor-de-rosa chamou-lhe a atenção. Era uma das damas-de-honra que, ludibriando a vigilância dos adultos, corria pelo tapete vermelho, arrancando risos abafados.
Uma suave brisa tornaria qualquer um mentiroso ao relatar o insuportável calor que reinara durante o dia. Um mormaço sufocante mantinha os menos avisados achatados ao chão, na vã tentativa de refrescar-se.
Sentada no longo e desconfortável banco da igreja, ela se sentia um ser estranho. Era como se não devesse mais habitar aquele mundo. Um mal-estar azedava-lhe o estômago e subia-lhe pela garganta.
Repentinamente, todos ficam de pé e o padre anuncia o início da cerimônia. Após o rito preliminar, adentra o recinto a pequena dama, espalhando pétalas de rosa pelo tapete vermelho, ao farfalhar de seu rotundo vestido. Em seguida, quatro casais de padrinhos e madrinhas esbanjam sorrisos nervosos. Encantadoramente adornada, uma segunda dama-de-honra paira sobre as pétalas, conduzindo o par de alianças.
Ela refreia as lágrimas – não pelo momento, mas por outro, imediatamente rememorado.
Seu casamento havia sido despojadíssimo: diante do juiz, em um auditório público, ela e seu amor eterno trocaram as alianças e beijos e sorrisos pelos lábios e pelos olhos – alegria, felicidade, realização. Nas fotos, cuidadosamente guardadas, era possível enxergar esses sentimentos. Encontrar seu olhar, agora, somente pela figura gravada no papel especial.
Quando ela despertou, a noiva já ia a meio caminho do altar – voltando, já como esposa. Todos sorriam-lhe de volta, alguns saíam apressadamente a fim de conquistar o melhor lugar no salão de recepção. Outros bocejavam tentando vencer o cansaço de um dia extenuante de trabalho.
Ela vagueou seu olhar pela nave, agora semi-ocupada. Definitivamente, ali não era seu lugar.
Ela circulou o olhar pela nave, parcamente adornada, e imaginou que o Sr. Adolpho, pai de Maria Clara, quisera ocultar a riqueza da família, abrigando a todos que comparecessem à missa daquele dia, sem ofender aos mais humildes nem expor-se aos mais abastados. Era seu pensamento.
Observou a si mesma e maldisse o momento em que se preocupou tanto com a roupa que usaria. O suave vestido que sua melhor amiga emprestara gritava aos outros que não lhe pertencia. Maldisse, também, sua falta de coragem em aplicar próteses de silicone e aumentar suas vantagens carnais... Enfim, nada a fazer, só a lamentar... Meninas, jovens e senhoras exibiam figurinos diversos: desde a calça jeans combinada com regatas até vestidos longos com corpetes bordados.
Pensou, agoniada, que não deveria estar ali. Seu lugar era em sua casa, adornada pelas saudosas fotografias de seu amado. Era ali que se sentia bem, era ali que ainda o encontrava.
Um balofo vestido cor-de-rosa chamou-lhe a atenção. Era uma das damas-de-honra que, ludibriando a vigilância dos adultos, corria pelo tapete vermelho, arrancando risos abafados.
Uma suave brisa tornaria qualquer um mentiroso ao relatar o insuportável calor que reinara durante o dia. Um mormaço sufocante mantinha os menos avisados achatados ao chão, na vã tentativa de refrescar-se.
Sentada no longo e desconfortável banco da igreja, ela se sentia um ser estranho. Era como se não devesse mais habitar aquele mundo. Um mal-estar azedava-lhe o estômago e subia-lhe pela garganta.
Repentinamente, todos ficam de pé e o padre anuncia o início da cerimônia. Após o rito preliminar, adentra o recinto a pequena dama, espalhando pétalas de rosa pelo tapete vermelho, ao farfalhar de seu rotundo vestido. Em seguida, quatro casais de padrinhos e madrinhas esbanjam sorrisos nervosos. Encantadoramente adornada, uma segunda dama-de-honra paira sobre as pétalas, conduzindo o par de alianças.
Ela refreia as lágrimas – não pelo momento, mas por outro, imediatamente rememorado.
Seu casamento havia sido despojadíssimo: diante do juiz, em um auditório público, ela e seu amor eterno trocaram as alianças e beijos e sorrisos pelos lábios e pelos olhos – alegria, felicidade, realização. Nas fotos, cuidadosamente guardadas, era possível enxergar esses sentimentos. Encontrar seu olhar, agora, somente pela figura gravada no papel especial.
Quando ela despertou, a noiva já ia a meio caminho do altar – voltando, já como esposa. Todos sorriam-lhe de volta, alguns saíam apressadamente a fim de conquistar o melhor lugar no salão de recepção. Outros bocejavam tentando vencer o cansaço de um dia extenuante de trabalho.
Ela vagueou seu olhar pela nave, agora semi-ocupada. Definitivamente, ali não era seu lugar.
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