Agosto

O mês de agosto, em geral, é associado a agouro - mau agouro... É época de ventanias fantásticas, artes do Saci e correria da Mula Sem Cabeça, entre outras peripécias. Suicídios, acidentes, assassinatos; os acontecimentos malfazejos parecem ter predileção pelo oitavo mês do ano (curioso: o número oito simboliza eternidade e equilíbrio...). 

E foi ontem, 21 de agosto, que sofri a terceira perda do ano. Em março, Ty, minha gatinha preta e cega, partiu, deixando muita saudade, um vazio indizível; no início do maléfico mês, foi-se Xexéu; e ontem, deixou-me Tupã.

Lembro-me de quando nos encontramos. Vínhamos, eu e André, de um restaurante perto de casa, que serve o tradicional prato de carne-seca e feijão de corda (na época, eu me deliciava com o queijo de coalho; mea culpa...), regado com uma sensacional Bohemia. Quando passávamos por uma escada, ouvi um miado; olhei e, ao ver o pequeno gatinho rajado de preto e cinza, daqueles mais comuns, virei o rosto e apressei o passo, dizendo ao André pra sairmos logo dali. Porém, quando ele olhou para trás, verificando se o bichinho tinha desistido, soltou uma gargalhada e disse para eu parar. Parei e olhei; o gatinho vinha correndo atrás de nós! Não resisti mais: peguei-o e fomos deixá-lo na casa de minha mãe (o santuário felino).

No caminho, decidi. O nome dele seria Tupã, iniciando a linhagem dos deuses brasileiros me meu panteão greco-romano.

Ele era magro e percebemos que tinha algum comprometimento nas patas traseiras. Mas nada disso nos fez amá-lo menos - ao contrário. Seu jeitinho tímido e quietude conquistou a todos. Até os outros gatos o aceitaram logo.

Porém, em 2009, quando fiz exame em todos eles, Tupã constou como positivo para a leucemia felina (FeLV). Ele e outros seis, condenados a sofrer os terríveis efeitos da doença devastadora.

No início de julho, ao mesmo tempo em que Xexéu abateu-se pela mesma doença, Tupã ficou baqueado. O tormento para ele, porém, arrastou-se um pouco mais do que o do companheiro e ontem, após silencioso e contínuo abatimento, seu espírito rudimentar largou o corpinho abatido, certamente correndo para a imortal liberdade. 

"Saudade é o amor que fica"...

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