Itinerários

Para aliviar o choque do fuzuê do dia anterior, presenciei cena hilária no metrô (pra variar...).
Desci à área de embarque, tranquilamente, pois o trem não estava lá nem havia sinal de que chegava. Coloquei-me em posição estratégica, como sempre faço, e saquei a leitura do momento (O Hobbit) e iniciei o deleite de mergulhar naquele campo fantástico.
Repentinamente, uma senhora baixa, gorduchita, curtos cabelos revoltosos, observa o letreiro dos itinerários e fala em tom exaltado e virulento:
“Ué!!!!! Só passa metrô aqui pra Ceilândia e pra Samambaia?????????????? Mas o funcionário disse que passava pro Guará!!!!!!”
Dizia isso olhando para o rebanho feminil (pois ainda era o horário em que o primeiro vagão é reservado para mulheres e deficientes), que retribuía, atônito, o olhar esgazeado. Boquiaberta, eu havia baixado o livro lentamente, pasma com o espetáculo, ignorante da reação esperada da plateia (seria uma performance promovida pela Cia. Metropolitano do DF para dar algum recado ou iniciar alguma campanha?).
Uma das mulheres, desvencilhando-se do estupor, informou-a, então, que o Guará fazia parte do itinerário de ambas as linhas. A apavorada senhora respondeu com um “Aaaaaahhhhh!!!!!” e pôs-se a conversar, em tom normal, com as circundantes.
Recuperada, parcialmente, da hora do espanto, retomei minha deliciosa leitura, lançando um último olhar furtivo para ver como estava a guaraense recém-esclarecida.

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