Dedicação

Ontem fui visitar o Abrigo Flora e Fauna. E fiquei impressionada.

Algumas pessoas, talvez, oponham-se ferrenhamente a esse tipo de alojamento para os animais. No entanto, muitas dessas mesmas pessoas podem ter contribuído para que exista o público ali residente.

Após o almoço, Fausto, eu e Thiago seguimos para o local. Mais ou menos no meio de nossa viagem, uma tempestade desabou sobre nós. Thiago cogitou que isso atrapalharia ou, até mesmo, inviabilizaria a visita. Confesso que temi por isso. Mas não queria desistir e quando Fausto disse que ao menos conheceríamos o trajeto, encorajei-me novamente.

Como se a Divindade se compadecesse de nossa obstinação, as nuvens carregadas, aos poucos, ficaram para trás e chegamos a nosso objetivo com o sol espiando aqui e ali.

Em frente ao portão, talvez recém-abandonados, dois cães nos recepcionaram. Carente, um deles quase não me deixava andar. Lá no Abrigo, os inúmeros cachorros começaram uma sinfonia de latidos. Thiago recuou e não quis arriscar-se em meio a alguns grandões que acercaram a entrada. Fausto e eu aguardamos que alguém viesse nos recepcionar, embora, intimamente, fiquei constrangida por ver o pessoal pegando no pesado, indo de um lado para outro, alimentando, limpando, tratando. Percebi que não era um mero dia de visitas.

Finalmente, um dos voluntários - pois o local é mantido com a abnegação de alguns ao lado da dedicada responsável - ajudou-nos a entrar no abrigo e guiou-nos pelos vários espaços já existentes e alguns em (lenta) construção.

De imediato, alguns dos cães se aproximam, o olhar humilde e ansioso, buscando nosso carinho, nossa atenção. E assim caminhamos, ora ouvindo o voluntário, ora conversando com os bichinhos, coração apertado e feliz.

Chegamos ao cantinhos dos gatos e nova recepção calorosa nos aguardava. Os bichanos, em sua maioria, vinham miando e solicitando nossos afagos.

É doloroso ver animais tão dóceis e amáveis, sabendo que a maioria, se não todos, uma vez tiveram um lar, pessoas que os adquiriram ou mesmo abrigaram, alimentaram e, um dia, muitas vezes sem qualquer justificativa plausível, abandonaram-nos nas ruas ou mesmo na porta do abrigo.

Muitos trazem marcas da triste e cruel vida nas ruas: ferimentos, doenças, medo. Muitos que foram abandonados e tiveram membros amputados; um deles ficou sem ambas as patinhas traseiras e, embora já caminhe apenas com as dianteiras, precisará de uma cadeira de rodas para locomover-se mais confortavelmente.

O problema origina-se em pessoas que compram animais por impulso ou para agradar os filhos e, pouco tempo depois, arrependem-se e desfazem-se dos bichos como se fossem uma embalagem vazia. Sim! Lá vimos três pitbulls, um rottweiller, um sharpei, um dachshund!

Outros não castram os animais, bradando com peito inflado que aquilo é uma violência, uma mutilação ao animal; e quando aparece a ninhada, jogam-na em um saco, abandonando-a em local ermo ou mesmo soltam-na nas ruas ou a deixam com qualquer um.

Fazer críticas confortavelmente sentado, não movendo uma palha para solucionar o problema, perturbando quem enfrenta mil dificuldades e faz - é fácil. Falar sempre é fácil. Pois larguem a hipocrisia e movam-se. O mundo só será melhor com a ação efetiva de gente de boa vontade e coragem. Como o pessoal do Flora e Fauna e outros semelhantes.

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