Infância
Outro dia, no salão, estava a neta da manicure que cuida de minhas unhas. E pensei na minha própria infância. E a tela estava em branco. Bom, nem tanto. Mas o fato é que minhas lembranças de infância são raras...
Lembro-me de acontecimentos pontuais. Alguns deles, na verdade, eu gostaria de poder voltar no tempo e desfazê-los.
Uma vez, devia ter por volta de cinco anos, estava brincando no quintal, atuando como um cachorro. Havia um aparato que preparei com baldes, ripas e sei lá mais o quê. Lá pelas tantas, pisei em um prego que passou despercebido. Fiquei olhando o sangue, tão vermelho e lindo! Porém, saí da contemplação e fui mostrar para minha mãe. Não me lembro exatamente se ela mesma fez o curativo ou me mandou fazer... Era sempre água oxigenada com mercúrio, que deixava aquela manchona vermelha na pele. Também não tenho certeza, mas acho que retornei à função - tendo o cuidado de retirar a ripa com o prego.
Uma outra lembrança, daquela mesma época, era de eu estar tomada pela fúria (não sei o motivo; aliás, não precisava haver um. Nasci furiosa e colérica...). Então fui até a penteadeira de minha mãe, coloquei todo o creme de corpo no meu cabelo (não sei se eu distinguia os cremes; mas me lembro que não era creme de cabelo) e comi um batom que dava bobeira por ali. Fiz um unicórnio com meu cabelo e, acho, fui caminhar pela casa, em algum lugar em que houvesse espectadores. Não me lembro da sequência.
Mais tarde, lá pelos sete anos, me vejo andando em plena Avenida SAMDU, indo para a escola, vestida de coelho da páscoa (minha mãe fez a fantasia com cetim amarelo). Imaginem bem a cena... Não sei porque não fui com meu uniformezinho e lá trocaria de roupa. Não sei, não sei... Também não me lembro da apresentação feita ao lados de coleguinhas. Mas me lembro de outro grupo que apresentou-se vestido de indiozinhos. Não, eu realmente não preferia ter participado deste; imagino-me caminhando com o corpo avantajado pintado (talvez com a parte superior de um biquíni) e saia de palha pela movimentada avenida. Visão do inferno!
Em outra apresentação, também por essa época, em outra escolinha, me vesti de borboleta - colant amarelo e asas transparentes, enfeitadas pela professora.
[Por que sempre amarelo?]
Só que não me lembro de coisa alguma desta feita.
O legal era que eu sentava a pua nos coleguinhas que ousassem rir ou fazer alguma piadinha. Ah, maravilhosos tempos em que eu sempre era a maior e mais forte da turma! Isso durou até a quarta série...
Lutas de espada, jogos de guerra, guerras antiga e medieval, experimentos científicos - eram algumas das magníficas brincadeiras das quais pude experimentar. Ah! muito legal! Pena que o tempo vem embotando minha memória sobre os acontecimentos (alguns, eu mesma emboto com prazer...).
Lembro-me de acontecimentos pontuais. Alguns deles, na verdade, eu gostaria de poder voltar no tempo e desfazê-los.
Uma vez, devia ter por volta de cinco anos, estava brincando no quintal, atuando como um cachorro. Havia um aparato que preparei com baldes, ripas e sei lá mais o quê. Lá pelas tantas, pisei em um prego que passou despercebido. Fiquei olhando o sangue, tão vermelho e lindo! Porém, saí da contemplação e fui mostrar para minha mãe. Não me lembro exatamente se ela mesma fez o curativo ou me mandou fazer... Era sempre água oxigenada com mercúrio, que deixava aquela manchona vermelha na pele. Também não tenho certeza, mas acho que retornei à função - tendo o cuidado de retirar a ripa com o prego.
Uma outra lembrança, daquela mesma época, era de eu estar tomada pela fúria (não sei o motivo; aliás, não precisava haver um. Nasci furiosa e colérica...). Então fui até a penteadeira de minha mãe, coloquei todo o creme de corpo no meu cabelo (não sei se eu distinguia os cremes; mas me lembro que não era creme de cabelo) e comi um batom que dava bobeira por ali. Fiz um unicórnio com meu cabelo e, acho, fui caminhar pela casa, em algum lugar em que houvesse espectadores. Não me lembro da sequência.
Mais tarde, lá pelos sete anos, me vejo andando em plena Avenida SAMDU, indo para a escola, vestida de coelho da páscoa (minha mãe fez a fantasia com cetim amarelo). Imaginem bem a cena... Não sei porque não fui com meu uniformezinho e lá trocaria de roupa. Não sei, não sei... Também não me lembro da apresentação feita ao lados de coleguinhas. Mas me lembro de outro grupo que apresentou-se vestido de indiozinhos. Não, eu realmente não preferia ter participado deste; imagino-me caminhando com o corpo avantajado pintado (talvez com a parte superior de um biquíni) e saia de palha pela movimentada avenida. Visão do inferno!
Em outra apresentação, também por essa época, em outra escolinha, me vesti de borboleta - colant amarelo e asas transparentes, enfeitadas pela professora.
[Por que sempre amarelo?]
Só que não me lembro de coisa alguma desta feita.
O legal era que eu sentava a pua nos coleguinhas que ousassem rir ou fazer alguma piadinha. Ah, maravilhosos tempos em que eu sempre era a maior e mais forte da turma! Isso durou até a quarta série...
Lutas de espada, jogos de guerra, guerras antiga e medieval, experimentos científicos - eram algumas das magníficas brincadeiras das quais pude experimentar. Ah! muito legal! Pena que o tempo vem embotando minha memória sobre os acontecimentos (alguns, eu mesma emboto com prazer...).
Não fui, na infância, como os outros
e nunca vi como os outros viam.
Minhas paixões eu não podia
tirar das fontes igual à deles;
e era outro o canto, que acordava
o coração de alegria
Tudo o que amei, amei sozinho.
e nunca vi como os outros viam.
Minhas paixões eu não podia
tirar das fontes igual à deles;
e era outro o canto, que acordava
o coração de alegria
Tudo o que amei, amei sozinho.
Edgar Allan Poe
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