Pais & Filhos

O vento embaralhava seu cabelo; frio, arrepiava sua pele morena.

Ainda assim, seu olhar revelava a erupção em sua mente atormentada. O castanho, agora mais intenso, expressava angústia e dúvida. Todo o mundo parecia equilibrado em uma teia de aranha.

O suspiro que sibilou por seus lábios ressequidos revelava a gélida decisão. Os seis brincos que pendiam de suas orelhas oscilavam, similares a minúsculos senhores-do-vento, revelando um mantra suave.

De repente, os pés envoltos pelo último modelo All Star, galgaram o espaço entre o banco e a janela da sacada. As pernas ergueram o corpo esguio, figura surreal recortada contra a luz que vinha da sala de estar.

E então ela saltou. O grito, aprisionado na garganta, não saiu, embolando-se na ventania que dançava em torno do corpo que caía.

O porteiro, que lavava pachorrentamente o gasto tapete do elevador de serviço, ouviu o baque surdo. Arrastou-se para verificar o que os malditos moradores haviam jogado desta vez. E viu o retorcido corpo moreno, uma auréola rubra sobre a cabeça desmontada. Retirando o boné, já com a estrela solitária encardida, coçou a cabeça, balançando-a, e foi avisar ao síndico.

O vento, agora, uma brisa morna e cadenciada.

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