Praia de Copacabana

Os reflexos solares no revolto líquido azulado justificavam a fama da mais conhecida área marinha carioca. Corpos semidesnudos, circulavam ruidosamente pela orla, causando certa vertigem ao observador incauto.
Ela trocava os passos lentamente, os olhos perdidos no horizonte. Vez e outra, baixava-os e contemplava a sucessão de pequeninos blocos alvinegros formando curvas sob seus pés. Sentia imenso prazer ao contato dos raios impiedosos sobre a pele acostumada ao bolorento ambiente da seção pública em que trabalhava.
Enquanto a brisa salgada embaralhava seus cabelos, ela imaginava como teria sido a vida caso não tivesse mudado para Brasília. Teria encontrado a razão de sua vida? Provavelmente, não. Seria parte da calamitosa estatística das vítimas de balas perdidas que assombra o carioca.
Distraída, sentou-se sob um guarda-sol e solicitou ao garçom um balde com Bohemia long neck con-ge-la-da. Sorveu o malte precioso e propôs-se a relaxar apreciando a magnífica vista do Palace e as brincadeiras esportivas da juventude inquieta. Enterrou os pés no solo e lembrou-se dos momentos passados em outras paragens ao lado de seu eterno amor. Ah, como a saudade é insuportável! No entanto, lembrou-se, também, que o maior desejo de seu amado era vê-la sorrir sempre. E, esforçando-se para isso, sorveu a brisa marítima que chegava mais intensa no final daquela tarde preguiçosa de outono.
Ruidosas gargalhadas interromperam o prazeroso gole que saboreava. Ao virar-se, contemplou um alegre casal, talvez em plena lua-de-mel, trocando abraços e carícias. Os coloridos trajes de banho realçavam o tom acobreado de sua tez, sugerindo que sua estada nos braços da princesinha carioca não era recente. As lembranças atropelavam-se em sua mente enlutada. Novamente, refutou a tristeza e contemplou o verdadeiro bando de crianças que rolava entre conchas e água salgada, brinquedos e guloseimas maternalmente preparadas.
Ao longe, embarcações diminuídas pela distância, flutuavam sob o pélago profundo. Beirando a orla, joviais pseudo-surfistas desafiavam os volteios revoltos das salgadas águas da princesinha.
Erguendo a tulipa, repleta de gotículas que escorregavam suavemente, ela saudou o belo cartão-postal a sua frente, osculando o vazio carregado da presença de seu eterno companheiro. A tarde descortinava possibilidades.

Comentários

Tatá Ninomia disse…
Que belo texto, Helena!
Lindas imagens!
:)
Bjo
Lena Kissa disse…
Ah, Tatá, você é sempre generosa... Mas, mesmo assim, agradeço suas palavras! bjs

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