Mentos e livre arbítrio

Após quase um ano sem postar, eis que retorno. Não é que não goste ou que tenha passado por período de falta de inspiração. Não. Na verdade, é mesmo o contrário: todos os dias, especialmente quando não estou dirigindo, presencio pérolas de variados tamanhos, formatos e valores; mas acabo perdendo o mote ao iniciar a lida cotidiana e várias historietas evaporam. C'est la vie!

Pois é. Hoje fui ao correio postar aerogramas (há anos não fazia isto) e aproveitei para apreciar o lindo dia ensolarado que inaugura o verão por aqui. No retorno, fui almoçar. Estou eu lá, apreciando a sagrada refeição, quando levantam mãe e filho para ir ao caixa. O menino, então, pede um determinado doce (acho que era Mentos...). A mãe compra e entrega a ele, dizendo para ele não abrir, se não cairia tudo no chão (do mesmo jeitinho que falo com os gatos: "Não pode, filho, a mãe já falou!"). E o que aconteceu?

Ele abriu, é claro. E as balas rolaram pelo chão, é óbvio. 

Em seguida? Ele catou tudo do chão? A mãe se apropriou de minhas palavras? Não; ele simplesmente começou a chorar, aquele choro sem emoção, sabe? Surgido do nada, entende? E a mãe?

"Eu não falei, filho? Não podia abrir que ia cair! Eu não falei! Não, não adianta chorar! Eu avisei, não foi? Tem que aprender".

Esperei que ela segurasse o menino pelo braço e saísse rapidamente, antes que o show aumentasse. Mas o menino só intensificava o choro-grito e a mãe mantinha a ladainha. 

Olhei de rabo de olho. Incomoda - a mim incomoda - barulho na hora da refeição. Seja choro, de criança ou de idoso, conversê, vídeos de Whatsapp (os quais a pessoa acha que todos no salão terão interesse em "ver"). 

A cena se prolongava e cheguei a pensar se a atendente diria, gentil e constrangidamente, que a mãe pegasse outro, por conta da casa, para o anjinho não ficar tristinho. Quase interrompi a sagrada ruminação para assistir. 

#SQN 

A mãe, com entonação mais pretensamente educadora que maternal, disse que o filho se acalmasse que ela compraria outro. Isso mesmo, não registrei incorretamente. E ela comprou. E entregou a ele dizendo "Ó, não abre, se não vai cair de novo. Já pensou se eu não tivesse mais dinheiro? Você ia ficar sem!"

Mais uma vez - pois já presenciei outros momentos "educativos" entre mãe e filho -, pensei em como as crianças estão sem parâmetros. Em minha opinião, os pais de uns dez anos para cá estão muito permissivos, frouxos. Não que tudo seja resolvido com surra, castigo ou violência (embora eu pense que, às vezes, seja, de fato, necessário). Também não me entendo como exagerada, vendo em algo tão singelo um problema.

Alguns ainda dirão, talvez aos gritos indignados, quem sou eu para falar se não tive filhos. É verdade; não os tive por opção e se pudesse voltar no tempo, não os teria novamente. Isso é livre arbítrio. No entanto, não me impede de ter opinião sobre o assunto.

Creio que ser pai e mãe não é simplesmente sair parindo crianças. Isso é fácil. Ter filhos é ter a obrigação de educar e orientar aquele ser que se recebeu em seus braços. Batalhar para mostrar-lhe, essencialmente por atitudes, que o respeito ao outro é o maior bem que se pode cultivar - até porque cada um é o outro de alguém; então, o respeito que se quer para si deve ser dado aos outros. É o óbvio ululante!

Para mim, essa mãe perdeu valiosa oportunidade de educar o filho hoje. Acredito que ela não devia ter comprado outro doce. Primeiro porque o filho a desrespeitou quando abriu a embalagem a despeito de seu pedido. Segundo porque custou dinheiro; estamos em momento financeiro delicado e a criança precisa entender que dinheiro não brota do chão. 

Sim; sou adepta de pequenas atitudes que podem mudar grandes problemas. Não me importo em ter seguidores. Quero ter a consciência tranquila ao saber que minha parte eu fiz.


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