Penitência?
Vivemos em ciclo, em tudo o que fazemos. Nascemos, crescemos, produzimos, envelhecemos, morremos; estudamos, estagiamos, trabalhamos, aposentamos, morremos; ficamos, namoramos, noivamos, casamos, morremos; comemoramos término e início de anos; mudamos as folhinhas dos calendários... enfim!
As datas comemorativas, sobretudo as religiosas (bem numerosas em um país laico...), são especialmente curiosas. As pessoas celebram o natal, insistindo em dizer que Jesus nasceu nesta época, alegrando sobremaneira o comércio, e caem com tudo na comemoração do reveillon carnavalesco. É, porque Momo não se contenta com os diazinhos de fevereiro. Bom, após isso, voilà! chega o carnaval e, na modorrenta quarta-feira de cinzas começa a tal quaresma.
É curiosíssimo como as pessoas se recolhem (ao menos no discurso) e empenham-se no imenso sacrifício de suprimirem algum prazer de suas vidas. Normalmente, deixam de beber ou fumar; alguns não assistem ao BBB ou a sua novela favorita; outros não praticam sexo - e por aí vai. Bizarro!!! Depois de fazerem tudo e mais um pouco, acham que 40 dias dessas "privações" são suficientes para lavarem seus "pecados"...
Logo no início da quaresma, uma colega de trabalho estava bem compenetrada: quando começávamos a reclamar de alguém ou a falar mal de algo, logo ela falava "Credo, gente! Estamos na quaresma, vamos parar com isso!". Certamente, eu gostaria de retrucar algo malcriado, mas... criar climão pra quê, não é?...
E outro dia, em uma de minhas viagens de metrô, indo para o trabalho, vi uma jovem senhora com seu filho de uns 6 anos de idade, saudáveis ambos, confortavelmente instalados em uma das cadeiras preferenciais. Na estação seguinte à que entrei, um senhor de seus 70 e poucos embarcou. Logo olhei em direção às cadeiras: em uma estava uma senhora, forte, que, creio, ainda não atingira os 65 regulamentares; e na outra, a jovem senhora com a prole. A senhora "dormia"; a jovem senhora ignorava tudo e todos - sentada estava, sentada ficou. O senhor permaneceu, então, junto à porta (porque, para variar, o metrô estava lotado). Algumas paradas adiante, a jovem senhora desocupou o lugar; uma moça alertou o senhor, mas ele, gentil e conformadamente, agradeceu, sorriu e disse que desceria na próxima estação. E assim foi.
Pensei logo na tal retidão da quaresma. Tudo bem, sei que é uma ritual católico e tudo mais, mas é impressionante como as pessoas não se colocam no lugar do outro, como não são capazes de realmente se "sacrificar" por breves minutos para serem gentis e compreensivas.
E mais triste ainda é ouvir a todo momento, em plena semana "santa" em que nos encontramos, as pessoas falarem de chocolate, de dar chocolate, comer chocolate, vestir chocolate, chocolate, chocolate, chocolate!!!
Pessoas, acordem! Afinal de contas, conforme a tradição religiosa, um certo Alguém morreu nessa época porque ousou ser bom, caridoso, curador, amável etc., etc., etc. Não é dia de chocolate e coelhos (nem a simbologia salva...), mas, para quem acredita, reflexão, retiro e mudança de comportamento (mental e físico).
"Se alguém afirmar: 'Eu amo a Deus', mas odiar seu irmão, é mentiroso, pois quem não ama seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê". (João 4:20)
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