O Pai

Embora os relatos sobre vampiros permeiem a própria trajetória humana, in illo tempore, a obra que lançou o mais famoso frio foi Dracula, de Bram Stocker, nos idos do século dezenove. 

Caso você tenha acompanhado a versão cinematográfica, com a impecável e romântica atuação de Gary Oldman, não fique muito animado. Sou apaixonada pela película, em que o amor verdadeiro, eterno e redentor é retratado de forma mágica. É impossível não torcer pelo sucesso do Conde D. na luta pela reconquista de sua bela amada Mina/Elisabeta. Não importa o quão modernoso ou rebeldete você seja; no âmago de seu ser, o sonho da realização amorosa fervilha, incontrolável.

Pois é. A obra, porém, guarda ligação mínima com o filme. Lá, o temível Draculia é um sugador calculista e cruel; não perdeu sua amada coisa alguma, pois, quando mortal, só viveu para a conquista de territórios e poder para si e para os seus. Sua ida à grande Inglaterra nada teve a ver com Mina, mas sim com seu plano de ampliar seu domínio vampiresco, espalhando "filhos" pelo importante país e, posteriormente, para todo o mundo conhecido.


A despeito de tediosos trechos em que Stocker parece um religioso do alto do púlpito, pregando veementemente sua fé, e da lentidão imposta pela técnica epistolar, a obra possui uma dinâmica irresistível e somos impulsionados a beber cada carta, cada relato, cada testemunho sobre os mortos-vivos que dominam forças da natureza e controlam animais; transformam-se em morcegos, ratos, lobos ou em uma singela e fatal névoa, pela qual somente se consegue vislumbrar os medonhos olhos vermelhos, ocultando as lívidas presas sedentas.

Sim. Do alto de seu decrépito castelo, Drácula continua a guardar o charme de ser a origem das gerações vampirescas posteriores. E, acima de tudo, de ter alcançado seu propósito: o mundo se rende, dia a dia, ao glamour dos imortais sanguinários.

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