A origem de tudo


Nos últimos anos tenho acompanhado o envelhecimento de meus pais com atenção diferenciada. Sei que soa estranho, mas é que não quero parecer piegas ou algo do gênero. Isso não significa que esse acompanhamento paulatino não deixe aquele aperto no coração e um incômodo nó na garganta...


Meu pai, um senhor de 83 anos, outrora tão altivo e rigoroso, agora caminha a débeis passos pelo quintal da casa, pois, acometido por rotineiras tonturas, não tem condições de sair sozinho.


A cabeça quase pelada, com ralos cabelos branquinhos, salpicados de alguns ainda teimosamente acinzentados, uma vez que o corte - feito por mim - é com a máquina no modo 1, ou algo que o valha.


O tom de voz alteado, pois a audição já não é a mesma de alguns anos atrás, destina-se a comunicar-se, sobretudo, com os gatos. E para construir pilhérias de que minha mãe nem sempre acha graça...


Minha mãe: a senhorinha grisalha, firme sob seus 73 anos. A viga e o esteio de todos nós. Passos ainda firmes, mãos prendadas. São dela os belos panos de prato, caminhos de mesa e outros trabalhos manuais que dão cor a meu apartamento.


Em ambos, o tempo não poupou marcas; as rugas contam as agruras de cada dia. Os olhos, mesmo sem a plástica da juventude, ainda exibem o brilho que as lembranças mais caras acendem.


Observo-os, diariamente, e sinto um aperto por, talvez, estar perdendo momentos preciosos ao lado deles, guindada pelos mil afazeres diários e pelas mil exigências do emprego necessário.


Quantas experiências? Quantos ensinamentos? Quantos sonhos - realizados, perdidos, ainda planejados?


Quanto dinheiro paga tudo isso???


Sim, concordo; sempre é tempo de realizar algo, de não deixar margem para arrependimentos.


Então, ao invés de simplesmente lamentar e martirizar o coração aflito, é preciso colocar esse amor e esse carinho que sinto transbordar por meus olhos em ação. E fazer. E deixar acontecer.


Amar é preciso; lamentar é perder tempo.

Comentários

Anônimo disse…
ora, quê de mais complexo há, se não sentir? bonito esse texto, narizinho.
Tatá Ninomia disse…
Adorei o texto, Helena! Lindo, lindo...

Postagens mais visitadas